“Arruma a casa, temos visita” - Cansei de escutar quando criança. Acho que aquela ordem e beleza “para inglês ver” que tanto me atormentava. Não interessava a bagunça, se esta fosse bem escondida.

Cansei dos mesmos bares e dos mesmos restaurantes. Das mesmas pessoas e dos mesmos papos. Da mesma língua falada, das mesmas fofocas. Dos mesmos pensamentos e das mesmas atividades.

Ele vai embora;

Deixa saudade, escancara a porta.

Ouço sorrisos e ele me olha.

As lágrimas escorrem e não tem ninguém que me acolha.

Cadê você agora?

Onde fomos parar?

Egoísmo não é amor-próprio. Ser engraçado não é rir de tudo. Ser cauteloso não é ter medo. Se divertir não é viver de festa.

Me chamam de distante e amarga. Quer saber? Pode até ser. Cansei desse papo medíocre, desse descaso imperativo e arrogância iminente que vejo perdurar nas pessoas. Cansei dessas verdades nunca ditas e máscaras sempre a postos. Cansei de justificar meu ímpeto desejo de estudar e querer mais.

Quer saber quem eu realmente sou? Sou aquela que já foi muito inocente. Aquela menina que aprendeu em altas tempestades e mares bravos a sua força. Aquela que por muito tempo não foi a procura do príncipe, mas sim do sapo. Aquela que ama com toda devoção até o dia em que a decepção se fizer presente. Se você me quer ao seu lado não procure me controlar. Nasci para ser livre, andar de carro em altas horas da madrugada sem destino fixo, rir incontrolavelmente e amar intensamente.

Preciso de calmaria e momento de paz.

Preciso ser cortejada e conquistada.

Preciso de abraços, beijos e palavras de amor.

Preciso de um tempo.

Preciso não pensar.

Preciso do sol e do sorriso no rosto.

O comum nunca me agradou. Sempre fui adepta ao estranho, a diferença, ao incomum. Gosto do torto, do desajeitado. É incrível o sentimento que tenho quando aprecio algo praticamente inapreciável pelo resto do mundo. Sinto ciúmes se uma música, um filme, quando algo totalmente invisível começa a alcançar os olhos e ouvidos dos outros, se tornando assim, parte de um modismo.

Ele era uma saudade, um gosto, um cheiro.

Uma risada, um olhar, um segredo.

Era um amigo, um amante, um desejo.

Era um telefonema na madrugada, era incompreensão, era diferença.

Ela não era qualquer mulher. Muito menos daquelas que esperava sentada por alguém. Mas lá estava ela, vestida, pronta para seu encontro e ele não aparecia. Ao se olhar no espelho mais uma vez ela não pensou entristecida com o que estava acontecendo, nem se sentiu inferior. Sentiu-se submersa, doada, entregue a uma fantasia.

Não quero mais, não posso. Sim, eu sei, cada um em seu lugar. O silêncio que me percorre grita aos berros minhas feridas abertas. Mas não há mais nada a se dizer. Seria tão mais fácil podermos apagar da memória e do corpo, todas as marcas que o tempo deixou. A dor que me percorre não é de desespero, mas sim desesperadora. Busco em mim forças para aguentar, pessoas para suprir e atividades para sucumbir.

Fico tentando decifrar maneiras para entender, para fazer você entender. Somos amantes, amigos, parceiros, inimigos, chatos e controladores. Tentamos, mas nunca deu certo. O fim nunca chega, exceto se o forçamos a isso. Mas a volta sempre vem. Chega sorrateiramente, sem pedir licença, e cá estamos nós, na subida da montanha-russa, mais uma vez. E quando a queda chegar? Irá você me largar?

A noite cálida, escura e fria. Em algum lugar distante ouve-se uma música. Algo sutil para ouvidos não treinados, algo sereno, triste e profundo. Suas mãos deslizam no piano e seu corpo parece querer acompanhar incansavelmente o ritmo da música. Não, ela não está aqui. Está em outro lugar, em transe, onde apenas ela e Beethoven se encontram. A paz, harmonia desse momento onde o movimento dos dedos ao encontrar com a tecla parecem dançar, sempre em sintonia.

Ela sai para a rua, entra no carro. Só ela, o som e a velocidade. Nada extremo, apenas paz. Isso que ela busca, isso que ela precisa. Atingir um momento em que não há mais nada a se pensar que a música que toca. Enquanto ele não chega, o carro anda. Percorrendo ruas, em busca de algo desconhecido. Liberdade.

Pai sentado na sala, lendo seu jornal, no fim do dia, quando chega seu filho indignado, querendo lhe fazer algumas perguntas:

-Pai, eu não entendo a língua portuguesa. Por que tudo junto, se escreve separado e separado se escreve tudo junto?

-Não sei filhote.

-Ou por que cama se fala como se existisse acento circunflexo, quando na verdade o que deveríamos ler era “cáma”?

-Não sei meu filho.

Eu sou assim, muito rápida, ando na velocidade da luz. Amo o sol na praia, a água do coco, o reencontro de duas pessoas que se amam. Amo a brisa do mar.Amo captar um momento inesquecível. Amo a fotografia. Amo a arte. O dizer em melodia ou em objetos. Amo a música, sobretudo o som do piano. Amo a verdade. Digo o que penso, porém penso muito. Sempre saberás o que sinto, pois isso eu realmente não escondo. Amo a razão. Preciso compreender para esquecer.