Universo paralelo
A noite cálida, escura e fria. Em algum lugar distante ouve-se uma música. Algo sutil para ouvidos não treinados, algo sereno, triste e profundo. Suas mãos deslizam no piano e seu corpo parece querer acompanhar incansavelmente o ritmo da música. Não, ela não está aqui. Está em outro lugar, em transe, onde apenas ela e Beethoven se encontram. A paz, harmonia desse momento onde o movimento dos dedos ao encontrar com a tecla parecem dançar, sempre em sintonia. Algo mágico a percorre, algo novo, algo subliminar. Fantástica que é a música clássica, a música erudita. A cada acorde, uma nova descoberta. Ah que instrumento mágico. É incrível a arte de se expressar através da música sem nenhuma letra verbal. É tão mais misterioso. A cada partitura uma nova descoberta dos sentidos, das razões e das emoções do compositor ao escrever a peça. A cada dedilhado, a cada leitura, um novo universo de possibilidades abre em seu horizonte. Nada mais importa, nada mais entra em seu pensamento. Deste momento em diante, ela apenas se concentra em seu universo paralelo, onde o seu piano é o personagem principal e a sua mão, bem como seu corpo e alma, meros coadjuvantes.